Dependência Química: desafios atuais
- Psicóloga Renata P. Estevam
- 2 de ago. de 2017
- 3 min de leitura

Droga é definida como qualquer substância capaz de modificar funções do organismo vivo, resultando em mudanças fisiológicas ou comportamentais. A dependência química está ligada a uma alteração cerebral neurobiológica que ativa uma região cerebral aumentando a quantidade de dopamina que oferece uma sensação de prazer e recompensa. A abstinência leva a diminuição de dopamina desencadeando o desejo ao uso para suprir as sensações provenientes deste. Alguns fatores influenciam e promovem a manutenção do uso, como: aspectos ambientais, sociais, culturais, educacionais, comportamentais e genéticos, bem como, individual (escolha de filosofia de vida), familiar, características da personalidade, transtornos psiquiátricos e psicológicos.
A adolescência é o período de maior risco para o envolvimento com as substancias psicoativas. Isso porque o sujeito está em processo de formação de identidade e personalidade. Neste momento o adolescente necessita de aceitação pelo grupo, desejo em experimentar comportamentos “vistos como adultos”, onipotência e busca de novas sensações são alguns fatores desencadeantes da fase.
Quanto mais precoce for o contato com as substancias para o jovem, maior a probabilidade de dependência, atraso no desenvolvimento, prejuízos cognitivos e transtornos psiquiátricos. O consumo de drogas também está associado a comportamentos de risco, suicídio, agressividade, acidentes e relações sexuais precoces e sem proteção, podendo resultar em uma gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis.
Cada pessoa metaboliza a substância de uma forma diferente no corpo. Fumar o CRACK, por exemplo, é a via mais rápida de acesso ao cérebro, dispondo das sensações citadas anteriormente. Um efeito rápido e intenso a um custo menor é provavelmente a razão para a propagação rápida de dependência a esta substancia.
O processo de reabilitação consiste no tratamento psiquiátrico, medicamentoso, psicoterápico individual e em grupo, terapia familiar e grupos de ajuda (Narcóticos Anônimos – NA). A psicoterapia visa a recuperação da identidade do sujeito, contribuindo de maneira significativa no alivio dos sintomas e ressignificação dos sentimentos. É importante desconstruir também o estigma depositado nos usuários que não contribui no tratamento e cuidado adequado a estes, ao contrario priva, exclui e marginaliza, agravando a situação e levando a um prejuízo considerável no quadro.

A família é uma grande aliada no processo de reabilitação. Podemos compreendê-la como um amplo sistema aberto, uma referência básica na formação da pessoa, ocorrendo suas primeiras experiências de vinculo. A família pode experimentar dificuldades no manejo de uma situação de dependência de um de seus membros, como também experimentar sentimentos de tristeza, frustração, raiva, impotência e tantos outros. É importante ressaltar que a mesma família, que acolhe e encaminha o usuário para um tratamento adequado, com bases também preventivas, pode ser aquela que exclui e marginaliza, promovendo e contribuindo com um ambiente de risco e desfavorável anterior ou e posterior a dependência química. Com isso percebemos que a família pode ser vista como fator de proteção e promoção a saúde quanto de risco.
Outro componente no processo de reabilitação seria o NA, um grupo de apoio com base na troca de experiência dos integrantes, um ambiente que promove o processo grupal e visa descobrir e alterar atitudes comportamentais associados à dependência. Esse grupo tem a premissa da recuperação por meio de autoajuda, crença na capacidade de mudança e que a recuperação e sobriedade ocorre por meio de relacionamentos terapêuticos com outros indivíduos em situação similar.
Os “Doze Passos”, utilizados pela organização foram inspirados e influenciados por aspectos sociais, psicológicos, filosóficos da época de sua fundação.
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